"A palavra que se traduz em tantas outras, em sentimentos dos mais nobres: assim se desenha cada página deste livro. Apenas Isso e Algo Mais é uma obra que, através de suas poesias vivas e pulsantes, mostra um universo feminino cheio de amor e emoção. Cada página representa um tempo, um instante vivido com intensidade múltipla e que agora, apaixonadamente, perpetua-se em um livro. Sentir ao máximo cada palavra: é apenas isso que Andressa quer de nós." Litteris Editora

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

1. Cinzas de poemas

Pedaços... Apenas pedaços...
Não sou eu por completo,
É apenas o resto
do que me resta.
Nem preto nem branco,
apenas cinzas de versos...
Escritos porque amo
Cuja alma derramo
em face com o papel.
Entrega que flui
(dos dedos da poeta morta)
como um céu carregado
prestes a cair em pranto.
E, ao soprar do vento,
espalham-se as cinzas...
E, aos poucos,
com o passar do tempo...
Perdem-se...
(perdem-se os poemas sem rima)
Pedaços... Apenas pedaços...
Não sou eu por completo,
é apenas o resto
do que me resta.
Apenas cinzas de versos...
Sim... Pedaços...
Apenas pedaços...
de mim.

2. Adanimuli

O retrato,
a luminária acesa,
os livros amontoados
em cima da mesa...
O quarto,
um pouco escuro,
pouco
iluminado,
decerto silencioso,
mas não
calado...
E, entre olhares difusos,
a doce poeta,
o seu sussurro...
O sopro da vida,
entre o papel e a caneta,
num caminho apenas de ida...

3. Fuga

Eu fujo se tudo desaba à minha face
Se tudo se parte me partindo
Se meu ser se sente só, sozinho
Se meu ser se desprotege
E quando vejo é só vazio,
Eu fujo...
E se tudo o que quero é o silêncio,
Só o silêncio
Se apenas finjo não chorar,
Se o meu sorriso se esconde atrás do olhar
Quando o que mais quero é só amar,
Eu fujo...
E no amor encontro o meu refúgio.

4. Pegadas

Sozinha
pensou que estivesse andando...
Pois, olhando as pegadas
na areia da praia,
não viu mais as Tuas,
achou que a havias abandonado...
Mas ao ver a onda
que tentou afogar a sua vida,
percebeu que ela não a alcançava...
Porque as pegadas,
as únicas que via,
não eram dela...
As pegadas eram Tuas
e Tu a carregavas.

Baseado no texto "Pegadas na areia"
Dedicado a Deus, meu Pai

5. Amor

Ainda que teu amor seja pequeno,
ela te amará com a intensidade do existir.
Ainda que se desvaneça por querer-te,
enquanto houver vida dentro dela, amar-te-á.
Negue-a se tua alma o desejar, diga-lhe Não!
Mas haverá um dia em que compreenderás
que o amor...
é a maior força que move um coração
que, simplesmente, deseja Amar.

6. Presságio

Ela estava ali
Te olhando a todo instante
Observando cada passo,
Teu semblante...
Segurou tuas mãos
Beijou tua face
Abraçou teu corpo
E não se deu por conta...
Achavas que era o vento!
Mas ela estava ali,
Diante dos teus olhos,
P’ra confortar teu coração...
Sei que a sentia,
Mesmo não a vendo
(Só não compreendia...)
Achavas que era o vento
Fazendo companhia
À tua solidão...
Mas era sua alma
Que abraçava a tua
Protegendo teu corpo só.
Para não vir logo
(Como o dela...)
A se tornar pó.

7. Resilhência

Pode cair
pela ausência de teu amor...
E acabar por lavar o chão
com as suas lágrimas.
(Sabe que merece...)
Mas se levantará
com o pulsar de sua alma!
E suportará o frio cortante,
mesmo que seja breve
o tempo que ainda tiver.
Viverá a vida
com a coragem de um herói romântico!
Haja o que houver...
E provar-te-á
que não há amor maior no mundo
como este que se torna mudo
p’ra que nasça a cada dia
ao lado de outra mulher.

8. Mostrai-mo

O homem que eu amo e por quem choro,
mostrai-mo, meu Deus! pois que vos imploro,
     senão, dai-me a morte.

Esse que é a luz destes olhos meus,
a razão d’eu amar, mostrai-mo, meu Deus!
     senão, dai-me a morte.

Esse que, entre todos, mais belo fizestes sê-lo,
mostrai-mo, meu Deus! onde eu possa vê-lo,
     senão, dai-me a morte.

O que me fizestes mais que a mim amar,
mostrai-mo onde possa com ele falar,
     senão, dai-me a sorte.

9. Poema de um quadro

Sentou...
Teclava cada letra p’ra encontrar um verso
que te trouxesse de novo,
mas apenas vinham ecos
e ela... não te encontrava.
Ficou minutos pensando,
sentindo dores...
Mas insistia em continuar,
queria sentir-te ao menos em seu peito!
Dar vida a estas palavras
que eram somente p’ra ti.
Talvez...
Era um véu invisível
que o encobria em seus olhos...
Pois o que apenas via era um quadro
com flores secas, avermelhadas no chão.
Havia um rio no centro,
que mostrava o reflexo das árvores nuas
e um céu difuso no fim
entre branco e azul...
As dores se tornavam cada vez mais fortes!
Estava quase parando de escrever...
Quando percebeu que o poema
enxergou teus olhos através do vidro...
Fechavam e se abriam, vagarosamente,
e tu sorrias,
como um momento único.
Ai como queria estar ali...
Mas o sono tomou-a nas mãos, repentino,
e ela... desapareceu
vertida no leito,
manchado de cores.
A paisagem se apagou...
Seu último suspiro...
E teu olhar regressou à vida!
Pranteou as marcas desse gemido,
que ficaram expressas no quadro
Ao cair da parede!
Mas era tarde,
simplesmente, tarde...

10. Obra morta

No caminho que não é meu
Tentou trilhar e se perdeu...
Sem ela o que serei eu?
O silêncio emudeceu...
Morro, porque ela morreu.

11. Poema de noz

Nas noites nebulosas que eu passo,
vou caminhando neste mundo ordinário
deixando marcas marrons com os dedos na parede.
E com paradoxos escrevo tudo o que penso,
nessa dor que sobe pela garganta
queimando o meu sangue amarelo.
Não sei a que fim chego
com esse reflexo que me fere a alma;
Não consigo abrir os olhos diante de mim mesma
e se faço,
avermelham-se...
Essa rachadura no meu coração,
formou-se por saber que não há asas
que suportem o dobro de seu peso.
Dias vão passar...
e eu me verei dentro de um lugar
que não consigo sair...
Dali cairei em prantos,
como a chuva cai sobre as folhas
e pinga no chão.
Embora saiba
que hei de fugir co’a minha voz,
meus pensamentos sempre vão estar longe daqui...
Quero correr a um passo da terra,
no ar...
Sentir a umidade do vento e olhar
para todos os lados e ver
pássaros sorrir!
Transpor o arco-íris e nunca cair.
Quero alcançar as estrelas...!
Transformar-me na mais pura e delicada flor,
com um perfume supremo que nunca se sentiu.
Quero ver nos meus olhos um brilho azul...
Deixar o tempo no seu momento,
voltando e refazendo o que ficou mal acabado.
Quero andar...
nestes passos que só são meus,
nestes sonhos que pertencem
unicamente a mim.
Pois assim estive a vagar na solidão
que permanece onde estou.
Poema que se desfalece...
Almas que se unem...
Inspiração que se renova
na proporção em que os cravos crescem,
mas um a um há de soltar-se
deste caule mergulhado em óleo,
pois aproxima-se de sua hora...
Não existem palavras que clareiem a mensagem,
mas há silêncios que a levam
entre cantos de qualquer paragem...
Dada a perceber,
sem adquirir compreensão.
Essa é a música de uma menina
que, crescendo por fora,
permanece a mesma por dentro,
embora haja os que duvidem
das notas de sua melodia.
Como as nozes...
são iguais quando se vê,
mas quando se abrem
não revelam a mesma cor,
e se confundem na negritude do apodrecer.
Se discordo minhas letras,
estes serão meus versos
em sua exata discordância...
pois a beleza está no desconhecer de todos
e no saber como ninguém
a profundidade de minha própria obra.
A noz brota em meu ventre,
neste amanhecer do existir,
como natureza perfeita de um começo
cujo brilho jamais se apagará...!

12. Apenas faíscas

Por um instante,
pensou que olharias para trás...
Mas não olhou...
Não parou...
Olhos teus
que não conseguiu alcançar...
Tentou...
Mas até os teus passos desapareceram...
Estavas distante...
Aqueles sonhos eram apenas faíscas
jogadas ao vento!
Jamais rodarias o mundo
para o encontrar...
Tu não sabias...
Mas teu coração para sempre
seria apenas metade...
E ele ficaria ali na janela
em eterna saudade...
Por um amor que nunca teve,
e nem esteve
perto dele...
Por olhos que nunca o viram...
Por ouvidos que nunca o ouviram...
Quando só queria dizer “Te amo...”
Acreditas?
Suas mãos em tuas mãos
separadas por um vidro!
Ele estava à tua frente...
Por um instante,
pensou que olharias em seus olhos...
Mas deu-se por conta de que este almejar
era um inativo vulcão...
Aqueles sonhos eram apenas faíscas
caídas no mar...
Doce ilusão de um pensamento contínuo
que apenas tinha vontade de amar.

13. O segredo de Jasmim

O segredo é apenas um mistério
que não foi desvendado,
um baú sem chave
para que não venha a ser revelado.
É o vento suave
que passa sobre Jasmim
fazendo-a lembrar daquele
que amará até o fim.
Guarda-o com lágrimas
nas profundezas do coração
para que ninguém descubra
esta sua amarga paixão.
Tal segredo que a pertence
(só ela sabe)
e jamais dirá
o que dizer não cabe.

14. Queda livre

Ela se lança a mares d’antes navegados
Abre os braços na ponta do mastro
E do vento o primeiro afago
Fecha os olhos e esquece o tempo...
Revela-se o seu íntimo ao partir das cascas
Há um desnudamento do mistério
E deixa vir à tona tudo o que quer,
O que tão-somente a divide como hemisfério...
A dor que deveras sente
A alegria que tão-somente finge
E seus pés mancham-se de vermelho amor divino
Das gotas que caem do pulso frágil de seu corpo...
E sendo amor ama a própria solidão enquanto só
E amando a ti faz a mente criativa
A criar universos em frutos de imaginação
Para agarrar-se no chumaço de dourado pó.

15. A voz de ecos

Estava caminhando num beco sem saída...
Sentiu que tudo começou a girar,
precisava de um motivo para não cair
e se afundar no sangue que escorria
dentro de si...
Ouviu a morte lhe chamar
para que isso deixasse de ser um pesadelo
e pudesse apenas dormir em paz!
As estrelas espalhadas pelo céu
brilhavam sem cessar
e a luz da lua refletia sobre si.
Aquilo que, no entanto, parecia a levar,
estava num duelo branco e preto
em seu pensamento!
As lágrimas escorriam do seu olhar
rolando sobre sua face,
quando os pingos de chuva começaram a cair...
Não havia percebido o temporal que estava vindo
no seu caminho.
O vento começou a soprar mais forte,
em poucos segundos, encontrava-se encharcada
e, agora, trêmula de frio!
Não conseguia correr para nenhum lugar...
Não via nada à sua frente,
só escutava sons por vezes intercalados.
Encostou-se na parede que sentiu.
E, como que se esfregando nela,
sentou-se no chão
entre gritos sufocados de mágoa!
Entre aquelas montanhas de concreto
ela podia ouvir os ecos...
Iam e voltavam numa mesma voz,
apenas repetindo seu apelo que gemia por socorro!
Parecia que o mundo estava surdo...
Pois somente aquele coração quebrantado ouvia,
ninguém mais...
Nem um eco excedente ressoava por aquele vento,
apenas o barulho metálico das latas de lixo
que eram atingidas pela água.
Sua alma estava ali,
caída naquele canto gelado e sujo
como que deixada em abandono.
Simplesmente pálida...
Só.
A voz de ecos que nunca esqueceu!
Embora tenha pensado em desistir,
foi naquele momento que se encontrou.
Lembrou-se do olhar preso em seu peito,
do pedaço de amor que ainda deveria existir...
Em algum lugar secreto de seu coração!
Se ela não se levantasse,
Teria sido só mais alguém que parou.
Mas foi a tua lembrança
que não a permitiu morrer...
Os céus se abriram!
E as rosas que tampariam o seu túmulo,
enxugaram suas lágrimas...
Porque simplesmente encontrou,
o caminho de volta p’ra casa.

16. Apenas vós

Saudade do teu amor,
do teu corpo,
do teu calor...
Ela te sente ali dentro
tentando entrar...
Sua ponta lhe encosta,
causa-lhe desejo e vontade
de permitir este momento,
de eternamente te amar!
Agarra com força a blusa em teu corpo,
enquanto ao mesmo tempo
apalpas e apertas o seu...
Está com vontade de ti!
Quer fazer amor...
como loucos apaixonados,
com esse desafio incontrolável
de quem vive a vida com intensidade,
como ela é...
Não tem medo!!
É inconseqüente,
impulsiva e corajosa...
Coloca à prova a si mesma,
não te dando chance de escolha,
a não ser se entregar...
Quer sentir as sensações,
a batida forte de teu coração,
ouvir teus suspiros...!
São estes vossos momentos...
Os únicos que vivem apenas vós!
E se isso for loucura,
quer viver como louca
em sinal de perigo!!
Assim...
surge mais um motivo
para dizer que
não apenas existe,
mas vive!

17. Uma canção de silêncio

(Às duas canções de Moraes)


Crê apenas no sonho
                         e em mais nada

Cala, escuta o coração
                         que lhe fala

Não seja a covardia
                        tua maior vergonha

Crê no amor
                  Ouve a alma cálida,
                                  silenciada

À vontade que porfia,
                             em silêncio,
                              ser amada.

18. Significado

Observa pensativa as infinitas estrelas do céu
Vê o brilho da lua sobre as leves ondas do mar...
Pára e pensa
Numa razão suprema para viver...
Num motivo maior para se amar...
Não consegue entender
As estrelas, esqueceram-se de brilhar
Não compreende
Como luzes se apagam e desaparecem
Em um universo cheio de energia.
Explique-lhe
Como astros podem apagar?
Como olhos conseguem parar de brilhar?
Ensine-a
A ver no escuro
A não ter medo de tropeçar
A enxergar de olhos fechados...
Mostre-lhe
Como cegos veem a supremacia da vida
E como surdos ouvem
A sonância do amor.
Dize-lhe
Como é viver...
Quando seus olhos estão atrás de um vidro?
Quando as lágrimas escorrem sobre sua face
Ao ver quem mais ama falecer?
Não, não quer adormecer...
Ajude-a acordar!
Quer te sentir de perto...
Quer abrir os braços e voar sobre o infinito...!
Perdeu a vontade de sorrir,
Pois teme viver sem o olhar
Que completou a outra metade de seu coração.
Por favor,
Ela precisa entender
O significado de te amar!

19. Saudade é para sempre

Saudade de tudo aquilo
que a vida não lhe permitiu...
Saudade do beijo
que nunca te deu...
Saudade do abraço
que nunca pôde ganhar...
Saudade de ti
que por tanto tempo esperou...
Saudade de vosso amor
que nunca pôde se concretizar...
Saudade...
Tem saudade...
Saudade do tempo
em que ainda eras vivo...
Saudade de tuas palavras
que tanto a fizeram feliz...
Saudade do momento
em que podia dizer que te amava...
Saudade...
Saudade do teu sorriso
que cedo perdeu o viço...
Saudade da presença que virou ausência...
De tudo o que almejava ao teu lado
e nunca sonhastes...
Desde o dia em que partiu,
seu coração parou (contigo)...
Tem saudade...
Sempre saudade...
E será eterna a saudade que sente
como aquilo que não tem fim,
pois tua imagem...
essa que amou,
congelou-se dentro de Jasmim...

20. Apenas isso

Talvez você saiba
que eu existo...

Talvez você saiba
até o meu nome...

Mas é apenas isso.

21. Algo mais

Minha mente vivia sempre absorta em meus próprios pensamentos. Meu coração era apenas retalhos mal emendados. Minha alma era um ser esquecido, dentro de um mundo real, que se punha a fugir para um mundo imaginário. Até ele aparecer...

Não podia imaginar que, de repente, meu mundo mudaria por causa de um simples encontro de olhares. No entanto, aqueles olhos, pareciam-me familiares... Quem sabe, os vi em sonho.

É como se estivesse destinado a acontecer, naquele século, naquela década, naquele ano, naquele mês, naquele dia, naquela hora, naquele instante. Diferente disso, não ocorreria e nem teria o mesmo encanto.

Foi mágico. Embora houver outros momentos mágicos na vida daqueles que se encontram apaixonados, sempre quando acontece, parece como se esse, que existe nesse instante, fosse único... E a verdade é que é.

Meu coração havia batido daquela forma, com aquela intensidade, apenas uma vez. E fora na infância, quando tudo era muito mais bonito, verdadeiro, puro e enobrecedor, um amor além de qualquer coisa, capaz de chorar um dia inteiro por um simples olhar rejeitado da pessoa amada.

Não sei o que ele pensou quando meu olhar refletia no dele, permanecendo fixo até sua imagem desaparecer. Ele poderia ter-me ignorado, mas não. Em todos os olhares que dei, aqueles lindos olhos permaneceram fixos aos meus. Fui correspondia como nunca houvera sido antes, tanto que estrelas saiam destes olhos meus... Acredito até que ele podia vê-las.

Não consegui esconder o que sentia, muito menos, a vontade que parecia faiscar do meu olhar. Eu o queria, como nunca quisera alguém, inexplicavelmente.

Queria saber quem era o dono daquela imensidão... Daquele verde-mar e sol que me diziam tanto. Eu não sossegaria enquanto não soubesse quem era ele. Não poderia se tratar de qualquer homem para, sem ter feito nada, me tocar naquele jeito e prender, como numa cadeia, a minha atenção. Eu podia sentir alguma coisa que estava além do parecer. Algo mais por trás daquele encanto, no mais profundo daquele ser. Eu podia sentir... 

Meu corpo inteiro se arrepiou quando decidi e comecei a escrever um poema, inspirado naquela alma, daqueles olhos que me diziam o inesperado. Minhas mãos suavam frias. Eu tremia. Meu coração batia rápido e descompassado. Eu o sentia comprimir meu corpo como se quisesse saltar por minha boca, para fugir de um temor maior que o de se apaixonar.

Eu nem conhecia aquele homem, e ele simplesmente me inspirou as mais sinceras palavras de um amor desconhecido. Com uma coragem que só meu sangue poderia descrever, disse-lhe ali que o queria. Falei da vida e, ao mesmo tempo, dos meus sonhos, do desejo que eu tinha de um amor que ama. E, na última chance que tive, evitei pensar, apenas entreguei-lhe aquela folha de caderno, em mãos, já com uma sensação de desmaio. Pensei que as minhas pernas não me suportariam naquela hora, mas suportaram. Precisei de alguns minutos para começar a me recuperar, devagar, o tremor foi passando, as batidas diminuindo... Até ele aparecer novamente dizendo o meu nome.

Pensei, agora, que o teto ia desabar sobre mim; cheguei até a olhar para cima, mas, nada, permanecia intacto sem nenhum sinal de rachadura ou instabilidade. Eu devia estar ficando louca, verde, azul, vermelha. Queria um buraco invisível para me esconder, mas era tarde. O que eu havia feito estava feito, não poderia mais ser mudado e eu devia arcar com as conseqüências que, na verdade, eu desconhecia e nem sequer esperava.

Os olhos dele, agora, pareciam diferentes ao me olhar, como se não acreditassem. Eu apenas respondi com meu sorriso e meu olhar, agora, tímido... Não sabia muito que fazer, eu ria alegre da situação e, principalmente, por me encontrar absolutamente desprotegida daquela coragem que me fizera, antes, desafiá-lo. 

Havia assinado o poema apenas com meu nome, motivo pelo qual fez-lo vir até mim, mas não foi intencional, tudo aconteceu naturalmente e espontâneo, o que era mais incrível. Tanto que me despedi dando um abraço, num homem que eu acabara de conhecer. Nem eu mesma me apercebi daquilo, mas ele se apercebeu. E, na segunda vez, ele já esperava o mesmo abraço que, antes, gostara de receber, embora, agora, querer também um beijo, que, na verdade, não aconteceu ali naquele instante. O que, todavia, poderia parecer estranho, tornava o momento ainda mais mágico.

O próprio tempo mostraria quando deveria acontecer. Nada era esperado, tudo simplesmente acontecia. Como se o Destino estivesse além de nós dois, deixando-nos fora do próprio tempo. 

Aquele homem, do olhar mais lindo que já vi, da pele mais cheirosa que senti, descobriu em mim algo inacreditável... Estava além da menina que ele mesmo viu. Além daqueles olhos tímidos, às vezes menina, às vezes mulher. Mas sempre o mesmo sorriso dócil, o mesmo encanto e o mesmo espanto perante as coisas desconhecidas, perante aquele sentimento que, para ele, era intruso, improvável, ao mesmo tempo em que forte e misterioso... Sentimento, agora, que passara a temer. Como se eu tivesse uma culpa imperdoável por ele ter mudado. Estava tudo bem, até aqueles olhos negros como a noite aparecerem o desafiando.

O que eu podia fazer? Lutar contra tudo o que já havia me dominado de forma tão boa? Eu mesma não esperava que, naquele dia, a minha história, a que eu estava construindo, seria mudada. Amá-lo era o meu destino. As estrelas do céu contavam nossa própria história. Éramos nós que nunca havíamos lido o que elas escreviam naquele livro infinito.

Eu não poderia mais voltar atrás... Estava além de mim. Além de o meu próprio conhecer. É como se ele me houvesse trazido, sem saber, a chave que abria por dentro o meu coração. Talvez por isso, minha paixão não perguntara, para mim ou para as próprias pessoas que achavam o impossível e absurdo, se já poderia se transformar em amor... Simplesmente irradiou meu corpo de luz, uma luz que somente o amor possui. E eu passei a viver, intensamente, mais. Porque o Destino me mostrou o caminho, e o meu coração decidiu segui-lo.